Como já lembrou a querida Regina Guerreiro na primeira pocket-entrevista deste blog, o “estilo” hoje vem das ruas. Isso supõe que o fashionista antenado em tendências tenha que estar ligado no que acontece à sua volta. Como pouco se vê dos modelões de quem anda de carro (sobretudo em vista dos vidros tipo “trancadão”), o jeito é passear nas ruas, sentar-se onde dá e ficar à toa, observando.
O problema é que São Paulo não é uma cidade feita pra quem gosta de (ou precisa) andar a pé. Em primeiro lugar, temos as ladeiras. Em dias de chuva, viram verdadeiras cachoeiras que carregam tudo o que há nas calçadas: sacos de lixo, nhaca dos cães, detritos variados e você junto, caro leitor desavisado.
Nos dias de calor, o sobe e desce desmonta qualquer look. O observador militante se verá compelido para o chuveiro de casa. E adeus passeio. Paradoxalmente, nos dias de frio acontece a mesma coisa. Afinal, depois de uma boa ladeira, quem precisa de casaco? E nada mais deselegante do que portar-se feito cebola, despelando aos poucos gorro, cachecol, casacão e pullover. E não se atreva a sair de luvas: o mais provável é que você chegue em casa com uma mão na frente e outra atrás.
Isso sem falar dos carros. Sempre me surpreende o instinto assassino dos veículos paulistanos. O bonito é que nesse ponto, ao menos, não se vê distinção de classe: motos, carroças enferrujadas, audis, pajerões e coletivos disputam o título de mais mortíferos. Acho que a melhor educação para o trânsito seria obrigar os motoristas a andar pelo menos um dia por mês a pé. Duvido que depois tenham a coragem de jogar seu carro na faixa de pedestres!
Pois é, caro leitor, a vida em São Paulo é muito mais difícil do que se imagina. E não me pergunte porque estou falando nisso e não em moda. Como disse Gloria Kalil para este blog, ”Política é como você escolhe o jeito de organizar o mundo; moda é a escolha do jeito de se mostrar ao mundo. As duas coisas falam de uma só: seu jeito de ser e de se manifestar.”
Com meus cumprimentos,
Maria J.